terça-feira, 11 de maio de 2010

É-tão-fixe-ser-contra-qualquer-coisa-nos-dias-que-correm- parte II

O nível de ressaibiamento em Portugal atinge niveis preocupantes quando "as pedras só voam" por causa do futebol.

O salazar ensinou-nos tão bem, que chega a meter nojo.

25 comentários:

film-m k disse...

após algum momento de indecisão, decido-me comentar neste (II) porque usaste aqui a palavra "ressabiamento" em relação aos portugueses, mas no entanto estes 3 posts transbordam de ressentimento :P

***

parece-me que a culpa é unicamente das palavras, a exemplo:
alternativo - é aquilo que alterna, ou seja anda entre uma coisa e outra.
a palavra foi usada para definir a diferença, modos artísticos pouco usuais, fora do sistema - mas a verdade é que o termo sempre quis dizer ambivalência e não exclusividade.
agora que o alternativo está na moda, a palavra revela-se eficaz ;)

independente (indie): é aquilo que não depende de mais nada além do próprio.
mas se pensarmos que o festival de cinema que esteve agora aí em lisboa tem a maquina que tem por trás e movimenta o dinheiro que movimenta, a palavra revela-se inadequada.
o "aspecto" (ou "ar" ou "pinta") de independente é que estão na moda. o significado (as obras, os filmes ou os acontecimentos) para que essas expressões foram usadas não.
haverá sempre cinema que passa ao lado dos circuitos comerciais, que são de facto independentes de produção e até de publico.... mas agora já não têm uma palavra eficaz que os defina :P

***

mas sim, desde o estado novo que portugal e fátima são temas muito queridos dos portugueses :(

*

(desculpa lá o testamento)

I Am No One disse...

Mas eu como "bom português" também tenho um nivel interessante de ressaibiamento ;)

Não sei se é possível, nos tempos que correm, caracterizar o objecto sem ter em conta o ambiente onde o mesmo é apresentado e para quem é apresentado.

O consumismo, aliado ao facto de que a imagem que damos de nós próprios se ter tornado mais importante que... nós próprios, fez com que todos os objectos em que tocamos com os nossos sentidos sejam parte de uma estratégia "manipuladora". Assim, parece-me que a palavra "independente" deixa de fazer sentido e a teoria de que "se não o vimos é porque não existe" tornou-se em "senão formos vistos a ver é porque não existimos", despedindo, sem justa causa, o objecto.

Faz-me confusão e, claro está, aumenta-me o nivel de ressabiamento ver pessoas desperdiçar tempo de vida com coisas que não gostam só porque parece bem, e o levianismo associado a esta maneira de viver, é falta de respeito pelo objecto e pelo artista por trás do objecto.

Mas isto não interessa nada porque o benfica é campeão e porque o Papa andou por aqui... :s

film-m k disse...

pois,
o problema é que o publico português se leva demasiado a sério - é demasiado vaidoso.

mostrar-se é actuar pala imagem. e esta sem contudo, mais tarde ou mais cedo dá de si... até porque se trabalha a sério, não há muito tempo para "feiras de vaidades".
(se é que estou a perceber-te bem :o)


mas olha que os teus posts ressabiados são fixes :P

katrina a gotika disse...

Não é o "público português", é o português que é vaidoso. Pode andar a passar fome mas os ténis têm de ser de marca. Anda sempre a mudar de telemóvel mas isso é porque não pagou a conta, etc etc.
Porque havia de ser diferente com a arte?

film-m k disse...

em nada, cara katrina.
qq forma de arte não é mais que um espelho, onde cada um vê o que quer. passar o espelho, implica interesse - e já se sabe, o vaidoso apenas se interessa por si próprio.

I Am No One disse...

Katrina, esqueci-me ainda há aqueles que de tão vaidosos nem se dão ao trabalho de ir ver cultura.

Film-m k, concordo a arte é primeiro o espelho do artista e após trabalho findo passa a ser espelho de quem a ver... cena triste não é? Sou demasiado egoísta para deixar algo que faça ser espelho de outro que não de mim... egocêntrico?

film-m k disse...

herrrr.... nem um nem outro.
a partir do momento que tens este blog já estás a agir nesse sentido. não estou a dizer que o happy clown é uma obra de arte, claro que não :P
mas cada post que escreves já te estás a espelhar e a servir de espelho.

quando isto acontece, nem vala a pena pessoalizar, porque o artista quando faz um trabalho pode ser perfeitamente um espelho virado para a sociedade que tem à sua frente, não tem de estar virado para si. aliás, os artistas que fazem trabalho virado para si, geralmente são os menos interessantes...

Mónica disse...

esta film-m k não pára de me surpreender :D gostei

I Am No One disse...

Se todas as peças de arte fossem apenas observação da realidade exterior e não pessoal então não tínhamos arte, só tínhamos a pop art.
E sim, antes que perguntem... Pop art, para mim, só tem o art à frente porque o Andy a copiou brincou com as cores e lá pôs a palavra...

Mas o que pretendia dizer algures lá em cima, e sim é obvio que o happy clown não tem qualquer tipo de pretensão artistica ou outra, e que há que ser egoísta, o artista tem de ser picuinhas com o sitio onde expõe, essa merda da democracia das artes tem muito que se lhe diga, olha vê lá toda a gente pode ir a todo lado e este sábado eram só seis ou sete...

Não escrevo mais porque acabei de tirar uma foto a uma lata de atum e vou-me tornar num "pop artist"...

film-m k disse...

risos! - quero ver essa lata de atum!
mas o andy só pensava nele (e no dinheiro que estava a fazer com as milhentas serigrafias que fazia da mesma imagem) - ele é o primeiro artista comercial consagrado da história da arte...

quando me refiro a espelhos voltados para fora, refiro-me a coisas como esta:

"when faith move mountains" de francis alÿs

http://www.vvork.com/wp-content/uploads/2007/01/alysfaith1.jpg

"On April 11th 2002, 500 voluntiers were called in order to form a line to move a sand dune situated in the surroundings of the city of Lima. This human comb progressed pushing forward a certain quantity of sand with shovels in order to move the dune from its original position. The actual displacement was of an infinitesimal proportion, but not its metaphorical resonance."



e sim, a arte sempre foi elitista, não por o ser mas porque só meia dúzia é que se interessa por ela...
por outro lado a joana vasconcelos bate records! :/ ...e também é arte (engoli um sapo a escrever isto)




(beijinho à mónica :)

I Am No One disse...

"e sim, a arte sempre foi elitista, não por o ser mas porque só meia dúzia é que se interessa por ela...
por outro lado a joana vasconcelos bate records! :/ ...e também é arte (engoli um sapo a escrever isto)"

Eu acho piada que neste pais ninguém tem coragem de dizer às pessoas que não prestam (em todas as áreas)...
Se é e sempre foi elitista parem com a democratização das coisas, a arte é deverá ser sempre fascista, no sentido de não ser global, acessível. Encontra-se aqui algum paralelismo com um post teu sobre a ironia e o humor barato ;)

A lata de atum estará online aqui esta semana e será a primeira peça de arte (:s) do ebola o pop artist português (reparaste que comecei a falar de mim na terceira pessoa como os futebolistas? Mais uma coisa em comum entre estas duas espécies...)... logo de seguida farei o mesmo com a bandeira e demais objectos estúpidos que me for lembrando... E é agora, finalmente que me vão acusar de falta de patriotismo e eu vou puder perguntar aonde é que está a pátria que não a vejo...Do it, do it, do it!!!!! :p

Uma performance é sempre muito complicada de analisar, ainda faço a digestão da que vi no sábado na cultur, mas até nesse espelho virado para fora está muito do interior de quem a fez, e nesse exemplo até mais do que seria aconselhável, cabe a quem a vê decidir no momento se se quer ver ali, ou se quer ver o que do artista resta ali ;)

P.S. Atenção que não percebo absolutamente nada de arte, apenas falo do que olho e gosto, ou não... Não gosto é de me calar...O.o

film-m k disse...

"Eu acho piada que neste pais ninguém tem coragem de dizer às pessoas que não prestam (em todas as áreas)... "

a isto, há quem lhe chame 'educação', eu chamo-lhe 'saber estar' - ou não fosse o fracasso o meu tema preferido. cada um tem o direito de fazer o que quiser - de outra forma não havia amadores, nem arte naif e ela é tão importante como a outra.

por outro lado, a democratização existe e funciona, de outra forma não te lembrarias de fazer uma lata de atum :P - a minha mãe adora a vasconcelos, ainda bem que a mulher existe, doutra forma a minha mãe já tinha desistido à muito de perder tempo a ver obras de arte no jornal - infelizmente, só os trabalhos de mais fácil compreensão e com as piadinhas mais rasantes é que chegam ao grande publico - e aqui aponto o dedo aos jornalistas e demais responsáveis pela comunicação social, que mesmo quando não são especializados num assunto aceitam os trabalhos e vão eles dizer o óbvio para publico como se tivesses descoberto a iluminação....

quanto à performance: também gostaria de escrever sobre ela (talvez mais tarde) - quando dizes que tem muito do interior de quem a fez, concordo no sentido em que o sr. cardew tinha no seu interior uma enorme preocupação pelo exterior (antes de ser musico, era activista politico) e muito do que fez foi em prol da tal democratização da musica (irónico em relação ao nº de pessoas que a estavam a ver, não?): qualquer uma das suas pautas pode ser 'lida'/interpretada por qualquer um que não saiba ler-las - são desenhos, são sensações desenhadas - "isto é para todos" gritou ele a vida toda, por isso é que a esta hora deve estar a dar voltas na tumba com o elitismo com que os seus descendentes cunham as suas criações.


mas bem,
para quem não "percebe absolutamente nada de arte" até as vais pensando - fico à espera da salada de atum :P

I Am No One disse...

A "educação" ou o "bem estar" não são mais que mais um mecanismo de mentira, se não presta não presta, é que assim as pessoas ainda acreditam que fazem algo válido e podem perder oportunidade de fazer algo em que são mesmo bons...
Assim nunca mais teremos a excelência, a tal que parou mais ou menos no Andy Warholl porque ele conseguiu baixar o patamar de exigência a níveis nunca antes vistos... Se muitos artistas bons de hoje não teriam aparecido? Provavelmente teriamos perdido alguns, os mais preguiçosos... os outros teriam penado para conseguir. Mas espera o que acontece hoje com os artistas? Pois penam na mesma... hummm... grande democracia...

Concordo com os media, mas é mais fácil entender, como dizes a Vasconcelos que explicar a performance de Sábado, aquilo é de génio mas não vende nem arrasta as pessoas, se bem que tirou alguns sorrisos no passeio, também não faz dinheiro., Não enche museus e mais uma vez a Vasconcelos tem os sapatos... faz-me lembrar a minha filha, quando é preciso explicar qualquer coisa, vou buscar algo que ela já conheça e que possa relacionar com o que de novo vai aprender, assim é a Vasconcelos, "vêem isto é arte, é um sapato igual aquele que têm calçado mas é feito de..." Que bosta, a minha filha tem menos de 3 anos...

Isto até parece um ataque à Srª quando eu acho que a culpa não é dela viu uma oportunidade e agarrou... way to go!!!

film-m k disse...

ora'bamos'lá'por'partes:

a acção: chegar ao pé de alguém e dizer-lhe "tu és mau a fazer isto"
resulta em duas reações:
- por parte do "incompetente" é provável que crie receios de voltar a fazer, e isso pode anular um potencial 'qualquer coisa' - já que estamos sempre a aprender e a esperança é a última morrer.
- por parte do que diz, só vai cultivar ainda mais a sua prepotência.
essa história do "ser-se directo" e "não ter papas na língua" não passa de bulling intelectual, de alguém a impor-se a outro. saber-se estar não é nenhum mecanismo de mentira - a mentira é que é um mecanismo de aprendizagem (quando usada como protecção), a já agora, a omissão tb...


quanto à má arte ou à má musica, será sempre necessário - toda a gente precisa de pontos de referência e comparação

I Am No One disse...

Então não se queixem...

Honestidade não é prepotência... e essa treta de não julgar também é uma conversa fiada...

Como disse antes a honestidade filtra, é um processo de selecção natural, e aqui não estão, como é obvio, em questão gostos pessoais.
Impor seria se alem de dizer que a pessoa não presta a conseguisse proibir de repetir a façanha (isso seria completamente fascista e despropositado e não seria "saber estar" ;) ).

Concordo com a necessidade da existência dos opostos para se definirem mas não preciso que o mau seja produzido/exibido em massa para perceber o que é bom...

film-m k disse...

em relação ao teu segundo paragrafo,
não é preciso proibir para impedir alguém de fazer algo - há modos subtis de conseguir isso - psicologicamente (e a politica actual [não me refiro a partidos políticos, mas à essência da palavra] já percebeu isso - as campanhas do medo, por exp....

quanto ao teu primeiro parágrafo,
relembro-te este teu post:
http://happyclownwithbadideas.blogspot.com/2009/07/confissao.html

;)
ninguém escapa à mentira

I Am No One disse...

Mas eu nunca disse que não mentia, o que digo é que neste caso que discutimos, mentir é afastar a pessoa da excelência, porque de medias já andamos todos um pouco fartos (acho que posso falar por todos neste ponto), no entanto caso a pessoa insista em ser mediana em vez de procurar a sua própria excelência força nisso, longe de mim querer afastar o comum dos mortais da sua felicidade... Eu sou um exemplo disso optei conscientemente por ser "mediano".

Para mim, desde que a arte foi encarada como mais um objecto de decoração a excelência artística (des)faleceu. Já a musica é um caso à parte, porquê? Porque quase toda a gente gosta de musica e assim está criado público para tudo, o que é bom e o mau, já no resto das artes é o que se vê, o publico já de si pouco, mal guiado, não consegue "servir" todos...
Boa noção esta, do público como servo... eh, eh.

film-m k disse...

funciona à escala...

é o que temos: nem amos nem servos - poucos mas switchers ;)
(ecletismo é o que se quer! hi hi)

I Am No One disse...

Já o Deleuze discordaria disso :p

Aquilo (sadismo e masoquismo) tem regras muito bem definidas e até concordo com ele, não há cá trocas ou se é ou não se é :p

Mas sim, mal do artista que não seja, também, público ;)

film-m k disse...

(e o mais triste é que por vezes fazem-se exposições uns para os outros) - (e entretanto isto tinha começado no cinema :P)


em relação ao deleuze, acho sinceramente que nesse livro ele apenas expõe o que estudou, não comenta - até porque ele seria o primeiro a gritar "abaixo as regras"

definir-se apenas como sado ou maso, é anular parte de si - somos todos anjos e demónios.

e, no meu entender "ser-se" é procurar-se! se te sentas e dizes "eu sou isto" é porque já paraste.... mas tb é o que mais prá'i há: gente parada no tempo a reivindicar uma essência, ou pureza, ou definição qualquer...

film-m k disse...

(os comunistas por exp. :P)

I Am No One disse...

Então eu emendo, penso que seria da obra de Sade que ele tirou esta ideia, um sádico não diz "se doer demais avisa".... Se na sua essência está o sofrimento de outrém, não poderá nunca estar na pele de outrém, também o estabelecimento de um "contrato" como nas relações sado-maso são modernices... Não há sádicos softs, há sádicos se é bonito? não... mas se não forem assim também não o são.
Um aparte, tendo em conta a sociedade que temos (um pouco diferente mas não assim tanto da altura em que o livro foi escrito) defender isto não será quebrar as regras de que tudo é bonito e que todos podemos conviver bem com as diferenças(desde, claro está, que elas não sejam assim tão diferentes)?

Ter noção do que és faz parte do crescimento e do conhecimento próprio, ter consciência do que és, mas conscientemente assumires que não queres ser só aquilo é de génio, mas esses são poucos e estão escondidos.

film-m k disse...

não tem a ver com genialidade, mas com curiosidade...

e o que deleuze tinha mesmo era muita curiosidade! tudo o que escreveu foi um quebrar de regras no pensamento filosófico da altura.
e começou logo pelos 'mais' diferentes: a sua tese de doutoramento foi "a história da loucura"
e fez história :)

I Am No One disse...

Há por aí uma certa dificuldade em assumir a genialidade como característica de algumas pessoas...

Por aí o Einstein também foi um curioso, acabou em génio porque teve tomates para escrever e revolucionar, o Darwin, e podemos continuar, até porque a curiosidade é o impulso dos génios :p

film-m k disse...

pois... então para ser-se génio é preciso mais do que curiosidade - é preciso tomates!

(tou fodida... :P)